25 anjos
por Dão Carvalho
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an.jo – s.m. teol. Ente puramente espiritual, dotado de personalidade própria, que exerce o ofício de mensageiro entre Deus e os homens.
Retomara a consciência naquele momento. Talvez deva ser o cheiro, cheiro de ralo, de coisa podre, talvez isso me tenha feito acordar com o estômago embrulhado,..mas estava dormindo? Não me recordo de ter se deitado..que lugar seria esse meu Deus? Era escuro, dava a impressão de trevas,.ao meu lado não se enxergava nada, e só se podia ter uma noção do lugar olhando pra cima. Uma luz muito pequena no alto me dizia que o lugar era redondo e o fim de sua extensão indicava a saída, aparentemente abandonado, uns vinte e cinco metros de profundidade que pareciam mais. Bati os pés para reconhecer o terreno, havia uma água bem rala no piso de terra, abaixei, molhei minha mão e levei ao nariz para reconhecer seu cheiro, era fedorenta, aparentava urina diluída a enxofre, perturbava o nariz. A única coisa que me passava pela cabeça era a seguinte pergunta: Seria esse o tal “fundo do poço?” Lembrei-me de Denis, um grande amigo, de nossa última conversa, ele estava certo, coberto de razão. Sem certezas nem resposta pra minha pergunta, algo em minha consciência me dizia que o que importava era o agora. Tinha que sair dali, encontrar as pessoas que amo e assumir o que nessa vida a mim havia sido atribuído. Era hora de ter responsabilidade e força, de mostrar pra mim mesmo que podia. Olhei para a luminosidade, lembrei do filme ”poltergueist” e defini,..a melhor saída era seguir a luz. Estiquei meus braços e tateei como um cego sem bengalas as paredes úmidas daquele lugar, não enxergava nada, mas no tato percebi que ia de encontro a insetos, eram baratas! Milhares delas! Escutava estalos a cada passo meu. Ao colocar a mão na tal parede uma delas tomara a superfície do meu corpo, andava com ar de superioridade sobre mim, me mostrando que aquele lugar não era meu, mas dela. Sacudi-me desesperado, odiava baratas. De pronto sentira paúra, mas sabia que deveria transformar aquele exercito blatídeo em pequenos rivais, a batalha seria bem maior que aquilo. Não queria ficar ali,..não podia imaginar em mim qual erro poderia me condenar a tal clausura, ainda mais num lugar daqueles, fedorento, sem a companhia de ninguém, de certo, a solidão e o silencio sempre fora algo que me incomodava. Lembrei-me de Deus, de suas mensagens de força, pedia em consciência a ajuda de algo divino, Jesus, são Judas Tadeu, santo Expedito, santa Edivirges, os com competência para as causas desesperadas. Ou quem sabe, anjos. Nada ouvi. Acho que mesmo que estivessem ali, esperavam algo de mim.
Dei inicio a escalada, com as mãos por entre fendas, busquei apoios para iniciar a subida, afastava com as mãos comunidades amontoadas de baratas sem me dar o direito de sentir nojo delas, eram arqui-rivais e sabia que o duelo seria corpo a corpo.
Dificuldades,..hãn! Encontrava dificuldades. Não era todos os lugares do circulo que me possibilitava subir, investia em um dos lados, me agarrava a parede como um personagem aracnídeo dos quadrinhos,..escorreguei e voltei ao fundo. Gritei,..chorei..mas ninguém ouvira meu pranto. Ouvia agora vozes,.seriam transeuntes ou alguém disposto a ajudar? Chutei ao chão uma corda, uma corda neste momento seria muito útil, mas sem alguém para me puxar ou amarrá-la não adiantava nada. Resolvi não contar com ajudas externas, o problema era meu, tateei agora a outra parte do diâmetro, havia fendas e tijolos sobressalentes na construção, retomei a subida. Percebi que avançara bem, esta segunda tentativa se mostrava mais firme, mais segura. Mesmo assim parecia difícil. Minha força de vontade fazia com que acreditasse que entre o custoso e o impossível existia um espaço enorme. As baratas agora tomavam todo o meu corpo, exploravam todas as entradas e saídas de minha roupa, passeavam pela minha pele como vias de trafego, paravam, voltavam a andar, parece que percebiam o que estava acontecendo, que me saía bem, e nessa hora pareciam querer ter dentes, querer consumir meu corpo antes que chegasse a tona. Provocavam-me,..minhas mãos estavam ocupadas, faziam questão de andar por cima de minha boca, vasculhar os buracos do meu nariz, meus olhos, na verdade, queriam tirar minha concentração. Ouvi novamente vozes e olhei pra cima. Vi pessoas,..é, pessoas, rodeadas em torno do fim, eram muitas,..umas vinte e cinco. Todas elas sorriam. Pedi ajuda, todos arregalaram os olhos e continuaram sorrindo. Mas não fizeram nada. Concentrei-me na empreitada e continuei subindo, pode não parecer, mas as baratas atrapalhavam muito. Escutei agora um guisado, não vi, mas senti a presença de um animal sorrateiro, saía de uma das fendas que me apoiava,. Ao que tudo indica, fazia dali sua morada, e fazer com que eu desistisse, sua profissão. Não me restava saída a não ser me aproximar e avançar, faltava-me pouco, arrastou-se para perto do meu rosto e então a encarei,.era uma serpente, parecia querer me colocar medo, queria que a respeitasse. Ouvi mais guizos, uns vinte e cinco. A principal, sorria e tentava me hipnotizar. Pensei em ser corajoso mas aquelas vozes agora me eram nítidas,..diziam:
- Continue,..acredite..
É verdade,.nessa hora, a determinação seria mais importante que a coragem...ouvi novamente:
- Vamos rapaz!..está quase no fim!
Passei batido pela miserável e percebi que a margem estava próxima. Não fui picado, ela não queria me matar, não tinha tal poder..queria que morresse sozinho, por desistência. Estava orgulhoso de mim mesmo, já sentia o oxigênio “meio limpo” do lado de fora, um tumulto, uma ladainha..escorreguei o pé de apoio, distraí e acabei perdendo o foco,..me segurei por reflexo pelas bordas do fim. Naquele momento, percebi que aquele não era o fim e sim o começo. Cansado, me apoiei pelas axilas na mureta de saída, levantei a cabeça, em volta, muitas pessoas vestidas de branco, umas vinte e cinco, de mãos dadas e sorrindo formavam um circulo em volta de mim. Um deles, com aspecto de líder disse:
- Parabéns, mostrara força e determinação,..mereces a vida!
Os reconheci mesmo sem nunca tê-los visto, eram Gabriel, Azazel, Miguel, Ariel, Ielaiah, Micael, Eleniah, Azaliah, Nanael, Mumiah, Haziel, Caliel, Lecabel, Nebahel, Reiel, Sitael, Menael, Poiel, Umabel, Rochel, Jeliel, Hariel, Nitael, Eloah e Daniel. Diziam terem sido mandados por Deus.
Eram vinte e cinco anjos!
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