segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Festa e arte na periferia - Liliane Braga,de São Paulo (SP)

Em 2002, o palco era a rua. No ano seguinte, em cima de uma laje. O público crescia e, quando a iniciativa se tornou mais popular, o endereço virou o campo de futebol da Prefeitura de Taboão da Serra, região Sul da Grande São Paulo. Essa é a trajetória de uma iniciativa social abraçada pela comunidade do Jardim Leme e que, no ano passado, reuniu mais de dez mil pessoas - além de resultar na distribuição de sete mil brinquedos e três mil livros de história para as crianças.

Trata-se da festa da Ponte Preta, que ocorre todos os dias 12 de outubro, a partir de uma proposta dos integrantes do grupo Z´África Brasil. Neste mesmo dia, comemora-se também no Jardim Leme o aniversário da Ponte Preta, um dos 12 clubes de futebol da área. Não por acaso, "A Firma" - torcida organizada do time - também promove o evento. "A Firma" é sigla para Associação Favela, Igualdade e Respeito ao Menor e ao Adolescente e, como explica o MC Funk Buia, "foi criada pra falar o que tá acontecendo na quebrada, o que gente pode fazer pra melhorar, o que a gente não pode. E começou a fazer um trabalho de associação de juntar o pessoal, bater na porta da Prefeitura".

Hoje, também estão na organização da festa a Prefeitura de Taboão e a Cooperativa de Poetas da Periferia (Cooperifa), outra ação social na periferia paulistana já com cinco anos de história (veja texto ao lado). Gaspar é um dos poetas da Cooperifa. Aos saraus, ele credita o aprendizado que lhe permitiu aperfeiçoar rima e métrica em sua poesia.

Além dessa festa, o grupo Z´África Brasil - que já participou de um festival de hip hop no acampamento Chico Mendes, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) - realiza outras iniciativas sócio-culturais, como as oficinas educativas com os elementos da cultura Hip Hop, como o projeto "Hip Hop Quilombola".

Outra ação é a proposta de realizar uma coletânea com raps de outros grupos da "quebrada", que têm dificuldades para gravar e, conseqüentemente, de atuar no cenário musical. Isso faz com que muitos deles se desmobilizem. O trabalho vai ser encampado pela Elemental, selo e editora do Z´África. "Tudo isso é uma estrutura que estamos aprendendo. A idéia da gente de se organizar (com o selo) foi no sentido de mudar isso, de que tudo ficava na mão dos outros", informa o MC Gaspar. E, com essa articulação, ajudar a "mudar o rumo da história", como na letra de "Tem Cor Age".

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